Bem vindos a apresentação dos cordéis desenvolvidos pelos alunos 3º
ano do curso de História da Universidade da Região de Joinville
(Univille), na disciplina de História e Historiografia do Brasil II,
durante o terceiro bimestre letivo de 2020, sob orientação da
Professora Roberta Meira.
A proposta dessa atividade consistia que após a leitura e estudo do
romance “Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães, os estudantes
desenvolvessem cordéis a partir dos contextos abordados no romance e
estudados em sala.
Infelizmente a experiencia desenvolvida neste site não funciona tão bem em telas pequenas como a de celulares, caso deseje continuar no site, recomendamos utilizar a tela em modo "paisagem" dessa forma a leitura dos cordéis será melhor.
Escrava Isaura – readaptação
Autores:
Gabrielle Rodrigues
Gabriel Lopes
Vinícios Medeiros
Capa:
Isaura era uma moça linda, negra
fina e educada
lia e tocava piano
porque era prendada
trabalhava em casa de família
para pagar os estudos
dona Malvina a adorava
porque piano ela tocava
o que Isaura não sabia
era que Leôncio a queria
mas ela não podia
a patroa não perdoaria
em tempos de pandemia
Leôncio mandava juras de amor
pelo computador
mas Isaura não respondia, a insistência acabaria
Leôncio declarou seu amor
Isaura não aceitou, Malvina ouviu
e Leôncio escolheu
Isaura não quis Leôncio e pra casa retornou
Leôncio sequestrou Isaura, por amor
mas a liberdade que Leôncio oferecia
dependia do sim
que Isaura não dizia
Isaura passava os dias pensando na sua família
sua ancestralidade pedia luta
luta essa que nunca cessa
que liberdade tem se tornado essa?
Leôncio era obsessivo, não desistia
Isaura não trairia Malvina, patroa e amiga
Leôncio se enfurecia
a cada não que ela dizia
"Isaura, porque você me rejeita?"
"Jamais trairia minha amiga"
Leôncio percebeu que Isaura não cederia
a força seria o único jeito de fazê-la minha
Miguel, pai de Isaura, foi na polícia procurá-la
registrou a ocorrência e avisou sobre a insistência
de Leôncio a cortejá-la
até que Miguel a encontrou no cativeiro
Planejaram fugir com o carro
chegaram no aeroporto e em Recife pousaram
Alugaram uma casa
e por lá ficaram
Leôncio não suportou a fuga,
colocou anúncios no Facebook sobre a
sua amada “desaparecida”
passando pelo WhatsApp a foto batida
no Recife, Isaura se apaixonou
e logo com Álvaro noivou
seu pai ficou em êxtase,
mas as surpresas não terminariam
Leôncio encontrou Isaura, viu fotos do noivado
que no Instagram foi postado
Leôncio pensou, se não é minha
de Álvaro é que não vai ser!
Leôncio partiu para Recife e Isaura raptou
de volta ao cativeiro, Leôncio falou:
"Case comigo ou vai ser pior!" Isaura se levantou
"Não caso, meu amor não pertence ao senhor!"
Leôncio furioso, partiu pra cima de Isaura,
mas Isaura não seria tomada, ela contava com a força
de todas as suas ancestrais
e de Leôncio conseguiu escapar, quando com força sua cabeça bateu
Isaura não precisava de um homem forte,
ela já era suficiente
Reuniu-se com seu pai,
que com a polícia chegava
Leôncio estava na casa, com a cabeça machucada
e o orgulho ferido, foi direto pra cadeia,
mas Isaura não havia esquecido
Ser mulher no Brasil, é um negócio sofrido
Isaura encontrou seu pai, e seu noivo Álvaro
o casamento logo ocorreu,
Isaura encontrou alguém que finalmente a acolheu
E a qual seu amor sempre pertenceu.
Entre ficção e realidade
Autores:
Camila Melechenco
Moroni de Almeida Vidal
Mulheres tão belas e articuladas,
citadas por vários
Mas protagonistas apagadas.
Nos séculos que serão trabalhados
Não teremos mulheres "empoderadas"
Serão mulheres lindas, obras de arte
Emolduradas.
Por Bernardo Guimarães,
Isaura nos é apresentada.
Uma escrava branca,
Belíssima e educada
Porém a pobre mulher é muito amargurada,
Sente a morte de sua mãe
E seu pai, que não pode visitá-la
Seu dono, Leôncio, pouco pretende libertá-la
Então, vive sem esperança de ser alforriada.
Malvina, esposa de Leôncio,
É uma boa mulher, de família rica,
mas mesmo assim, subordinada.
Vivendo com Leôncio a ser enganada.
O homem a traí a todo momento,
Mesmo sendo compreensiva,
Leôncio só lhe causa tormento
Existe uma terceira mulher na história.
É Rosa, escravizada e negra,
Leôncio a considera escória,
Pois a usou e trocou-a por Isaura
Sendo uma mulher vingativa,
Não podendo descontar em Leôncio,
Sugere a Malvina, que se livrem da cativa
Já na obra de Maria Firmina dos Reis,
primeira escritora negra da História do Brasil,
temos a presença de outras mulheres descritas como encantáveis
mas submersas na melancolia
Comecemos com Úrsula
a personagem que deu nome ao livro
era branca, tímida, acanhada, esta donzela
que amava se afugentar na natureza
Sua mãe, Luísa B, era uma bela mulher
que estava enferma, arrastando a custo sua penosa existência
para que a sua filha pudesse acolher
de toda a sofrência
Nessa história ainda há Susana
uma mulher africana que era a escravizada de Luísa,
para a qual, a liberdade, era apenas uma lembrança desumana
da barbaridade daqueles que se achavam humanos
E como se não fosse suficiente tamanho sofrimento dessas mulheres
O irmão de Luísa, Fernando, confessou ter matado seu esposo
E ainda ousou pedir a mão de Úrsula
Sua mãe morreu ante ao desdenhoso
Úrsula então fugiu para se casar com a sua paixão,
Tancredo, homem gentil e amoroso
mas logo Fernando os encontrou e matou o amor de Úrsula sem compaixão
E trancou a escravizada Susana no porão sem comida e luz o asqueroso
Úrsula morrera então com a dor de sua perda
E Susana condenada a morrer como em um Navio Negreiro
Diante de tamanha dor e crueldade na ficção
Podemos perceber a atroz sobrevivência feminina na realidade
E talvez você se pergunte “qual o futuro dessa tal humanidade?”
E nós vos respondemos. Não temos um ponto de chegada
Mas existe uma luta constante,
Que não só às mulheres foi delegada.
Junto ao feminismo lutemos contra essa situação inquietante
A escrava que não era Isaura
Autores:
Ewerton Cercal
Kryta Leandra
Marina dos Passos
Rafaela Dagnoni
Rafaela Policarpo
Capa: Mangarataia
Essa história é
verdadeira
é de dois séculos
passados...
quando chegou em São Paulo
um navio, e entre embarcados
os presos escravizados.
Acostando o navio,
logo todos reagiram
pois entre os viajantes
viram algo anormal:
uma jovem, também cativa
cuja beleza, romanceada
trouxe comoção geral.
Ela tinha cabelos loiros e era branca como o sal
e por ser assim tão branca
compadeceram-se os homens.
Foi batizada Francisca,
sua alforria foi comprada
e todos os jornais da cidade
anunciaram com muito gozo
a bela história contada
da escrava agraciada
pelo dono generoso.
Ninguém sabe qual seu nome
ou de onde ela veio
é certo que de boa vontade
o inferno já está cheio.
E não fora só Francisca
escrava branca resgatada
outros, e ‘inda mais mulheres
foram também libertadas
graças aos ‘heróis defensores’
que não podiam aceitar
ver rostos tão belos, tão brancos
e as mãos acorrentadas.
A brancura da pele
era a virtude representada
evocava até mesmo os versos
dos românticos da palavra.
José do Patrocínio
abertamente criticava
algumas pessoas do movimento
abolicionista que se formava
pois aceitavam a escravidão
quando imposta à pele escura,
e ainda assim se indignavam
quando o crime tão violento
era imposto à pele clara.
Contudo, já disse Isaura:
"Apesar de tudo isso que sou mais do que uma escrava?"
Essa educação que me deram e essa beleza de que falam tanto
são trastes de luxo colocados na senzala do africano.*
Aquelas que não tinham a sorte
da branca liberta Francisca
trabalhavam nos lares
servindo às famílias.
Segundo o Robert Walsh
um tal inglês viajante
era o princípio do ventre livre
que nessas terras era dominante
o ventre, escravizado
seguia a vida nascente
era uma marca no sangue
fixa, permanente.
Uma mulher liberta
com seu filho branco e livre
conquistava a liberdade
da criança que desperta.
‘livres, forros, escravos’
não resumiam o que separava
negro, criolo ou pardo
e quem não era Isaura?
Muito menos Francisca?
E quanto aos homens e mulheres pretos
que não tiveram saída?
E encerro esse cordel
expondo essa história vil
escondida na bandeira
dessa pátria ‘mãe gentil’.
* Paráfrase do texto: GUIMARÃES, B. A escrava Isaura. São Paulo: Ática, 1976, p.13
Gilberto Freyre e Racismo
Autores:
Lucas de Souza Borba
Vinícius Mira
Capa:
Gilberto de Mello Freyre é pernambucano,
Intelectual multi premiado
Da noção de democracia racial foi o decano
E até hoje é o mais lembrado
Assim como Lispector, Quintana e Drummond
Nunca teve cadeira na ABL
Agraciados foram FHC, Sarney e Dumont
A Academia é quem perde!
Como todo pensador influente
Colocam palavras na sua boca
Em função dos usos políticos do presente
Dizem que ele disse cada coisa…
Democracia racial não nega racismo
É coexistência de diversidade
Produto do lusotropicalismo
Que explica nossa sociedade
Todo brasileiro carrega consigo
A marca cultural do africano
É o que de Freyre eu digo
Que causou certo engano
O que será que ele entendia por brasileiro?
Qual sua ideia de alteridade?
Na relação da ama de leite com o filho do fazendeiro
Que se constituía essa sociabilidade
O negro era imprescindível na sociedade colonial
Freyre defende com veemência
De tão fundamental
Não existiria essa sociedade na sua ausência
Aqui é um ponto polêmico
Críticos apontam uma certa idealização
Esse papel defendido como sistêmico
É cruel para essa população
Seja como for
Freyre escreveu em tempos de eugenia
Tem certo cunho transgressor
Em sua antropologia
Além disso, devo dizer
Freyre estudou nos Estados Unidos
O racismo que lá pode ver
Tem outros sentidos
Enquanto referencial de comparação
O racismo dos trópicos é velado
Os ianques tinham segregação
De preconceito escrachado
Freyre é pensador estruturante
Em História do Brasil é uma tarifa de imposto
Todo mundo que estuda tem que pagar o seu montante
Para tão relevante pressuposto
Mãezinha Morena, rainha do Sertão
Autores:
Andrew Bernardo Corrêa
Lucas Pscheidt Batista
Se vive ou esteve no Sertão
e viu as coisas de que vou falar
deve a Mãezinha Morena, uma prece fazer!
Para o Pai do Céu vamos então rezar.
Se não acredita, se achegue,
pois nesse cordel vou venerar.
Foi num tempo inesquecível,
da simplicidade e de graças,
quando tudo era pela vida,
pela fé, pelas festanças nas praças.
São João, Santo Antônio,
o retrato dos santos, das santas nas vidraças.
Curou os doentes, honrou os pobres
estremeceu os injustos e afastou o mal
traz felicidade, cura e alimento para mesa.
Sabe de quem é a conquista de tal?
Nosso, por intermédio da mãe
para família, conquista tão sentimental
Dá para ver nas artes
nos cordéis e poesias
nas pinturas das Igrejas e sermões dos padres
que a Senhora alumia, intercede
pela gente, pelo sertão, pelas cidades.
Crença e tempo que não é melhor que o seu,
é apenas cheio de nostalgia, de maneira diferente
Quem viveu lembra de tudo
e quem não lembrou, vai ter um dia mais contente.
A violação da dignidade
Autores:
Alex Ribeiro da Silva
Lorenzo Giovani Gava
Luiza Pereira Mello
Violação da dignidade
Quando um humano é transformado em propriedade
Tratado como objeto inanimado
Sequestrado, anunciado e vendido
Separados de suas comunidades
A um oceano inteiro distantes de seus familiares
Distante dos seus parentes
Sem dança e sem batuques
No lugar dos adornos são colocadas correntes
Sem vida própria, alma ou opinião
Suas crenças nem de longe respeitadas como religião
Suas peles retintas jamais enxergadas com compaixão
Em suas costas as marcas da mutilação
Em seus espíritos um luto que não cessa
Uma dor que conversa:
com a saudade; com a vulnerabilidade; com a falta que faz para o homem a sua liberdade
A cultura, sabedoria e saudade são presentes
Curandeiros, cozinheiros e guerreiros valentes
Alguns forçados ao trabalho no campo
Alguns a servir seus “proprietários” dentro de casa
E outros foram transformados em vendedores urbanos
Quando podiam ficar com alguns ganhos
Assim tendo mais chance de comprar a própria dignidade
Com a alforria vinha a liberdade
Um grito de esperança após tamanha promiscuidade
"Ó meu Orixá, dá-me piedade"
Para assim seguir meus caminhos com dignidade
Tanto sofrimento queima a retintas , me distancia da minha cultura; da minha comunidade
"Ó meu Orixá, nessa terra o azul brilha bonito"
Mas na minha terra o meu azul brilha melhor
Do casamento à Liberdade
Autores:
Felipe Pensky
Jean Carlos
João Lucas Ferreira
Leôncio é questionado por Malvina
Sobre as providencias
necessárias para o grande dia
Responde sorridente - Pela centésima vez,
As providencias de minha parte já dei jeito,
E é verdade
"Ontem mesmo mandei o tabelião passar
A escritura de liberdade
De Isaura com toda solenidade
E, também, mandei o padre
Celebrar o casamento com toda sua autoridade
E tu, Malvina, manda preparar
A capela para efetuar o casamento,
Já que desejas mais que todos esse momento"
Leôncio se acha em solidão
Após a partida de Malvina
Mas por sorte ali encontra
um companheiro chamado Jorge
Faz de Jorge seu amigo-confidente
Conta seus planos maléficos, perversos e doentes
Em uma de suas conversas,
Fala sobre seu real plano com o casamento de Isaura
Lhe dar o castigo que merece
Por sua inqualificável rebeldia
Conserva-la cativa em seu poder
E reconciliar-se com minha mulher
Em sua moradia, vários eram os interesses
Leôncio queria tirar vantagens
Mas o que não esperavam
Que Leôncio já não mandava em sua liberdade
A partir desse momento Álvaro tem a verdade
E Isaura não é mais cativa
Mais sim uma senhora ativa
Leôncio não aguenta
Perder sua escrava "amada"
Ver ela se torna senhora
E ele os escravizado
Muito perturbado saiu atordoado
Só se ouviu lá fora, um tiro de pistola.